Em agosto deste ano fiquei sabendo meio que por acaso que o grande Lourenço Mutarelli estaria dando uma oficina online de escrita. Sempre tive vontade de fazer um dos cursos que ele ministra, mas quando morava em São Paulo nunca conseguia uma vaga (os cursos no Sesc, e antes no CCSP, sempre foram muito concorridos) e, depois, morando aqui no interior, ficou um pouco mais complicado a logística.
Quando me deparei com essa oficina online do projeto Balada Literária (capitaneado pelo monstro Marcelino Freire), não tive dúvidas e fiz logo a inscrição.
Foram quatro meses muito inspiradores. Em que o Lourenço dividiu o seu processo e propôs exercícios que estimulam você a escrever da forma mais espontânea possível.
Sem apelo a técnicas, ao certo e errado, sem dogmas. Mutarelli valoriza que cada um busque o seu jeito de fazer, seja por meio da experimentação, seja pelo retorno a suas memórias e vivências da infância. Algumas aulas funcionavam quase como uma terapia em grupo. Foi muito enriquecedor ver o material dos outros alunos e as experiencias de cada um.
Encerrado o curso, o que fica é a sensação de que voltei a ser aquele garoto que fazia quadrinhos na faculdade, de forma despretensiosa, ciente de seus defeitos, mas nem por isso intimidado pelo desafio. Acho que fui perdendo com o tempo esse sentimento, possivelmente porque comecei a valorizar muito mais os manuais de roteiro que meu instinto.
O grande conselho que fica das aulas, e que gostaria de ter ouvido lá atrás, é esse: valorize o seu jeito natural de fazer, e siga em frente, independente de qualquer coisa. Fazer porque é importante se expressar, sendo verdadeiro e experimentando no caminho.
E silenciando aquele nosso lado crítico que procura um “jeito certo” de se fazer e que, em certa medida, na busca por um resultado específico, acaba simplesmente podando a criatividade natural. Esse processo acaba criando uma espiral em que você faz menos, porque não gosta do que faz, e por fazer pouco acaba fazendo menos ainda.
Foi muito bom esse reencontro comigo mesmo.
Tenho escrito mais e de forma mais natural. E esse processo tem gerado vários roteiros para novas histórias curtas.
E tem mais: os alunos do curso se sentiram órfãos com o fim da oficina. Disso surgiu a ideia de fazermos algumas reuniões virtuais, continuando a rotina de exercícios e leituras. Pode sair daí talvez um coletivo, ou uma publicação em conjunto. Ainda é cedo, mas os frutos são bons e fico feliz de ter tido a oportunidade de fazer parte disso tudo.
Por isso recomendo para todos que querem escrever a oficina do Mutarelli (mesmo que seu objetivo final não seja a escrita, mas se você gosta do trabalho dele, é uma ótima oportunidade para conhecer mais profundamente a gênese de suas obras).
E, aos que não tiverem essa oportunidade, que pelo menos ouçam o conselho: deixe um pouco de lado os manuais, e o jeito “certo” de se fazer, e siga seus instintos, divirta-se com o que faz, se expresse de verdade, sem se preocupar com o resultado em si. Curta o processo.
A vida é curta, e o que importa é a viagem, não o destino.
Novamente muito obrigado, Lourenço!